
segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
Bolhando

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
Voltei

Sim, porque plantei a semente, adubei a terra.
E irriguei o vaso.
Foram dias que viraram meses.
A flor brotou suave. Cresceu perfumada e vermelha.
Ficou feliz comigo.
Depois de muita prosa, eu também estava afortunada, confesso.
Então vieram tempestades.
Nem assim, deixei de banhar minha florzinha.
Que se mantinha ali, forte e próspera em sua vida de flor.
Mas afastei-me um dia.
E ela, sozinha, teve mesmo nada por companhia.
Acho que não viveu de ar a pobre.
Perdi-me no tempo etéreo que tudo leva.
E voltei somente agora. Ávida.
Ela não está aqui.
Nem exasperada. Nem nada.
Desapareceu, minha linda.
Padeceu?
Onde está a flor que esqueci de regar.
Se não secou e nem morreu?
Estive ausente por um longo inverno. Refloresço agora.
sexta-feira, 26 de setembro de 2008
Restos

sábado, 9 de agosto de 2008
Tempos de fada

sexta-feira, 25 de julho de 2008
Sem volta

domingo, 8 de junho de 2008
No tom do outono

Minha temporada agora é de seca. Uma secura branca e pacífica. Sim, há fertilidade em mim. Há adubo. Mas não há hora para o cultivo. Meus minutos estão contados, como dinheiro em tempo de recessão. São preciosos os meus segundos. Quando o inverno chegar, estarei mais forte e disponível. Não precisarei mais deste relógio impossível. E então estarei radiante para o verão. Esquentarei minhas letras. Plantarei minhas sementes coloridas. Condimentarei em novas línguas. E me tornarei, novamente, primavera de mim. Pra ti.
sábado, 31 de maio de 2008
purple

Você já havia partido.
Atrasei-me pois pensei ter entendido.
As palavras tinham significado de dicionário.
Eu não sentia. Apenas entendia.
E isso, acredite, fez a diferença.
Provocou esse maldito desencontro.
E acabou nessa meia vida mal vivida.
Agora só tenho você em sonho.
Nunca mais e pra sempre.
Coroado e glorificado.
Eternizado.
Ingênuo devaneio meu.
Deslumbre da minha quietude.
Por isso é eterno, não é?
Porque quem fica em sonho, tudo pode.
Responda, nem que seja na minha imaginação.
Mas responda, por favor.
Você volta?
Não me vire as costas.
Não em sonho.
Me fascina com seu verde no delírio da noite mal dormida.
Seja a ilusão da minha vida.
A minha quimera apaixonada.
Seja a miragem nos dias de areia nos olhos.
Quando as vozes alheias me arderem os ouvidos.
Seja minha utopia.
Minha dor e minha delícia.
Mas seja.
Esteja pra mim. Deseja comigo. Lateja em mim.
Me realiza.
Me finda com sua felicidade fantasiosa.
E me veja com os meus olhos de fantasia.
Uma só vez.
De verdade ou não.
Vida ou não.
Eu e você, ou não.
Você.
Sempre você.
Sua essência em meu coma.
domingo, 25 de maio de 2008
Chega de viagens no tempo

Outra coisa: difícil viajar pro futuro. Ela ocasionalmente me leva alguns segundos à frente. Mas pisco os olhos e volto pra cá, pro presente.
Pro passado ela volta com freqüência. Devolve-me sentimentos escondidos.
Alegra-me e me assombra essa máquina...
Sabe de uma coisa? Vou me livrar dela. Jogá-la em um buraco bem fundo.
Desfazer-me de lembranças? Jamais, são meus tesouros. Mas quero apenas guardá-las. Não revivê-las.
E, sobre o futuro... Quando ele tornar-se meu presente, aí sim eu vou vivê-lo.
E depois, quando então tornar-se meu passado... Aí eu te conto.
Sem medo.
quinta-feira, 15 de maio de 2008
Para Ana e André

Simples assim: amor de verdade.
Chega complacente.
Despretensioso, num breve olhar de sol nascente.
E torna-se quente de repente.
Sorrateiro, instala-se.
Traça seu enredo, ali, no primeiro beijo.
Sim, veio pra ficar.
Envolve, destoa e entoa.
E fica!
Tece a própria teia e não tem hora pra ser.
Apenas é. Simples assim: amor de verdade.
Amor consumado no amor.
Feito de amor.
Regado no amor.
Amor que gera amor.
Dribla o tempo.
E surpreende, dia-a-dia.
Feliz em ser o que é.
Em amar só de amor.
Em renovar-se no amor.
Pra celebrar esse amor.
Simples assim: amor de verdade.
* Para Ana e André, despretensiosamente.
Estou longe de ser romântica. E ainda concordo com Fernando Pessoa: todas as cartas de amor são ridículas... Mas falar de Ana e André sem ousar no amor, não é falar de Ana e André... É assim que os vejo, que os sinto. Assim os admiro.
Esta foi, portanto, uma singela homenagem a uma história de amor de verdade, que será oficializada amanhã. Uma homenagem a duas pessoas que se amam na simplicidade do cotidiano e que sei, se apaixonam todos os dias. Sempre.
À minha eterna e querida amiga Ana Cláudia, menina romântica que se tornou uma mulher apaixonada pela vida. E que junto ao André, construiu uma história linda, abençoada por anjos: Helena e Isabela!
segunda-feira, 12 de maio de 2008
Sem flores

Queria muito ter o carinho daquele amor. Porque havia sim, muito, muito amor ali. Mas não do jeito que sonhara: queria ser surpreendida ao nascer do sol, ganhar estrelas de presente, se deliciar em beijos pretensiosos e se embebedar de uma paixão embarcada no clamor. Não precisava ser assim todo dia. Só de vez em quando. Mas tinha que existir aquele amor encomendado.
Ela ainda não sabia que amor é amor. Simples assim. Completo em si. Sem saber disso, e ainda sonhando com um amor inventado, ela não conseguia ser feliz. Sentou-se, desolada, na cadeira que rangia sua dor de desamor. Estava desacordada no que as pessoas insistiam em dizer que era autêntico. Não era, oras. Não pra ela, que ainda sentia vontade de brincar de voar. Queria mais da vida. Queria mais vida. Entendeu agora?
Seu olhar foi arremessado na ausência. Suas mãos se abraçaram, entregues à solidão encarnada. E as pernas balançavam no ar, numa tentativa equivocada de encontrar o nada. E se jogar. Mas nunca se jogaria. Era uma menina medrosa. Tinha medo de perder o pouco que colecionara. Tinha medo de descobrir que seu amor não valia nada. Tinha medo de encontrar. E de não encontrar também. Tinha muito medo ali com ela. Sua prisão estava pronta e bem trancada. Então ela chorou. Mas nem isso adiantou. Nada aconteceu. Tudo ficou igual depois do choro compassivo dela.
Foi quando ela começou a falar. Falou, falou, falou. Despejou muitas palavras. Ela era bilíngüe, aquela menina. Falava duas línguas raras. Poucos entendiam. Mas os que compreenderam disseram que ela tem o dom de encantar quando começa a pronunciar aquelas palavras difíceis.
Ela ficou feliz, enfim, porque alguém entendeu sua dor. Sua ânsia de amor de sonho. De um sonho precioso e bem guardado. De uma quimera que encanta porque tem magia de criança. Depois disso, ela levantou-se da cadeira que rangia e resolveu voltar. Mesmo sem as flores que queria tanto ganhar naquele dia tão especial.
quarta-feira, 7 de maio de 2008
Palavras difíceis

sexta-feira, 2 de maio de 2008
Simples assim

E, juro, morava com as estrelas.
Sentia, sorria, consumia.
Voava, chorava, amava.
Meditava, derramava, dilacerava.
Esvaziava. Inventava.
E palpitava.
Até fingia que escrevia.
E experimentava.
Mas depois... Depois nada, coitada.
A noite chegava, após do dia.
E nada. NADA.
Ela ainda não sabia que apenas bastava.
quarta-feira, 30 de abril de 2008
Sem mais nada

terça-feira, 22 de abril de 2008
Havia sim

segunda-feira, 7 de abril de 2008
Arrebatamento

quarta-feira, 2 de abril de 2008
Era uma vez nos anos 80

segunda-feira, 31 de março de 2008
Bilhete

Já disse que te amo? Guarda isso também.
sábado, 29 de março de 2008
Sentença

segunda-feira, 24 de março de 2008
A quatro mãos

A quatro mãos: este foi o nome que escolhemos, eu e Friendlyone, para o blog que inauguramos esta semana! Isso mesmo, agora somos "sócias"!!!
Neste novo espaço vamos dividir a narrativa de um conto, entitulado "Casa de bonecas", que está sendo escrito sob dois olhares diferentes e quatro mãos ávidas.
O primeiro capítulo já foi postado...
http://luci-friendlyone.blogspot.com
Bjo, bjo
Luci :)))
segunda-feira, 17 de março de 2008
Por favor, um sonho!

sexta-feira, 14 de março de 2008
Pra colorir

quinta-feira, 13 de março de 2008
Mensagem importante...

Pessoas... Expandi as minhas fronteiras... Criei outro blog... dá pra acreditar?...
Minhas reticências.... http://luci-reticencias.blogspot.com/
Ontem, conversando com a minha querida amiga Friendlyone sobre os capítulos desta história que vinha publicando (últimos dois posts), ela me aconselhou a criar um espaço especialmente para este fim, já que eu poderia me sentir presa na sequência da narrativa... E assim, correria o risco de deixar de publicar outros textos enquanto não terminasse a história.
Então decidi criar o "Minhas reticências", onde publicarei os capítulos de minhas historietas... Quem estiver acompanhando os dois últimos posts, terá que migrar para o "Minhas reticências" para continuar a história.
Convido a todos para conhecer esse meu novo espaço.
Agora o Sem Crase, vai continuar como sempre, sem crise!!!
Bjos....
quarta-feira, 12 de março de 2008
A segunda parte de uma provável história

Eles estavam esperando por Stella na estação: Dona Isabel e Joaquim. Ela foi uma das últimas a deixar o vagão. E foi recebida com um sorriso e dois apertos de mão. Poucas palavras no caminho até a casa. Melhor assim, pensou, desprotegida, aquela menina que não queria estar ali.
A primeira parte desta provável história está no post abaixo.
Se haverá a terceira parte? Tomara!
domingo, 9 de março de 2008
Apenas o começo de uma provável história

Stella Teresa Rizzo havia chegado à casa dos portugueses na noite anterior. Trazia consigo uma pequena valise desbotada com algumas poucas roupas velhas. Usava um vestido não menos desbotado, sapatos surrados e empoeirados pela viagem de sua casa, na fazenda Esperança, até ali. Seus cabelos castanhos estavam emaranhados e presos em um coque. E seus olhos verdes eram opacos e despretensiosos. Ela tinha 15 anos e não sabia, ainda, a bela mulher que podia ser. Seu corpo grande e ossudo a deixava um tanto desengonçada e escondia segredos que nem ela conhecia. Seu andar era arrastado. Estava chegando àquela casa para ajudar na limpeza e se casar. Seus pais precisavam sobreviver.
Esta é uma narrativa que escrevi de supetão, há algum tempo, com a pretensão de que pudesse dar prosseguimento, mas acabei engavetando... Hoje resolvi publicar pois assim, quem sabe, consigo dar continuidade a ela, melhorá-la... E se você, meu caro, quiser palpitar, criticar, dar idéias, sugerir, até mesmo dividir essa história... Tudo tudo será muito bem vindo!
quinta-feira, 6 de março de 2008
Aquela viagem

domingo, 2 de março de 2008
Lancinante

O sol estava quente e eu caminhava sem perceber. Suava. A roupa branca não marcava. Carregava muitas sacolas pesadas. As mãos, acostumadas, seguravam forte. Os pés latejavam. Entrei no primeiro restaurante que vi. Estava cansada e faminta. Passara aquela manhã fazendo compras no centro da cidade, onde podia pechinchar e conseguir algumas bagatelas. Mas jurei que seria a última vez. Ah seria! Da próxima iria mesmo ao shopping center, a maravilha do mundo moderno, com suas facilidades e confortos. Sentei-me na pequena mesa perto do ar-condicionado. Acomodei minhas sacolas. Coloquei a bolsa do lado. Esfreguei a testa. Estava melada. Tudo grudava em mim. Precisava ir ao banheiro. Mas o garçom aproximou-se. A senhora quer fazer o pedido agora ou está esperando alguém? Senhora é a sua avó, me deu vontade de responder. Sei, sei que tem todo aquele lance de que é respeitoso, mas pra mim é justamente o contrário: uma p... falta de respeito. Quando me chamam de senhora, me sinto infinitamente mais velha do que já sou. Feia, sem charme, nada atraente. Juro, acaba com o meu dia. Preferia levar uma cantada grosseira... E o rapaz, coitado, ainda pergunta se espero alguém. Agora só falta me oferecer uma salada leve, ótima pra quem precisa de uma dieta. Aí sim, completa o ciclo do acabou-de-estragar-o-meu-dia. Mas respondo educadamente, sem sorrir hein, que não espero ninguém. Não espero mesmo. Não espero nada. Graças a Deus. Esperar é ter esperança. Estar em constante expectativa. E disso me livrei há muito tempo. Esperar é uma roupa velha que não mais me serve. Ingrediente fora das minhas receitas. Item excluído do meu cardápio. Alias cadê o cardápio. Na mão do garçom, que ainda me olha, na expectativa, coitado. Deve estar me achando doida. A velha doida... Sentada sozinha em um restaurante familiar de mesas grandes, carregando todas aquelas sacolas sem ajuda e ainda tendo surtos de mudez.... Bom, deixe-me ver. Quero uma cerveja bem gelada. E a salada do dia. Sei, sei o que disse sobre a salada. É que estou mesmo precisando maneirar. Só não gostaria que o rapaz achasse a mesma coisa. Vou ao banheiro. No caminho desinteressado, vejo um vulto do passado. Será possível? Sinto a pele formigar. Todos os meus pêlos arrepiam, avisando. É ele, meu Deus. Antônio. Está sentado naquela mesa do canto. Minhas pernas se aquietam. As pupilas dilatam e mudam de cor. Ficam claras. Paro atrás do pilar para vê-lo melhor. Ele não me viu. Observo. Ele está velho. Mas não perde o charme. Está fumando. Eu já parei. Parece estar sozinho. Mas está feliz. Dá pra ver. Deixa pra lá. Vou ao banheiro. Entro e vou direto ao espelho. Olho bem pra mim. Pele, rosto, olhos, boca. Lavo o rosto, retoco o batom, prendo os cabelos em um rabo. Sorrio. Ainda estou bonita sim. Será que ele ainda seria capaz de me desejar? Mesmo depois de tanto tempo morta? Éramos tão apaixonados, envolvidos, eloqüentes. Tão despreocupados. Irresponsáveis e felizes. Foi a última pessoa que amei. Depois dele, nunca. Nem me lembro quando foi a última vez que senti aquele frio na barriga. Ah, lembro sim, foi quando o Antônio foi embora... Nossa, que cor linda essa do seu batom. Aquela voz me traz de volta ao banheiro. Olho para o lado e a vejo. Linda, deve ter uns 20 anos. Ou menos. Usa uma roupa um pouco ousada. Mas qualquer atrevimento teria perdão. É cor de pêssego, respondo. Posso passar? Claro. Ela lambuza a boca com o meu batom, sem nenhum constrangimento. No maior sentido da liberdade. Obrigada, é que deixei a bolsa na mesa. Tchau. Tchau. Já não sou tão bonita agora. Será que devo mesmo passar na mesa do Antônio? E se... Espere um pouco, e se o quê? Não, não. Vamos parar com isso agora. Vou sair desse banheiro direto para a minha casa. Que Antônio o quê? Idéia maluca essa. Saí dali decidida. Passei rápido por aquela porta e, sem olhar para os lados, segui para a mesa onde havia deixado as minhas sacolas pesadas. A cerveja já estava lá. Gelada. Dei um grande gole. Congelou as minhas artérias. Ainda mais. Deixei dinheiro sobre a mesa. Agarrei as sacolas com força, a bolsa e saí daquele lugar perigoso. Mas deu tempo, meu Deus, deu tempo de ver, pelas janelas do restaurante, Antônio sentado com a moça perfeita do banheiro. Eles riam. Tropecei. As sacolas rasgaram. As minhas milhares de coisas espalharam-se com facilidade. O salto quebrou. E meus joelhos sangravam. Me esforcei para não chorar. Mas não contive o grito. De raiva e dor. Uma mescla entrega. Um rapaz parou pra me ajudar. Você está bem? Nããããooooo. Claro que não. Queria uma cova bem funda agora. Uma porta pra outra dimensão. Mas lógico, respondi apenas sim, obrigada! Ele segurou o meu braço. Levantei. Não ousei olhar para o lado. Será que Antônio viu? Só falta isso. O rapaz começou a recolher as minhas coisas. Eu, inerte. Atordoada ainda. Receosa. Na expectativa. Impossível fugir dela... Ouço então aquela voz. Helena, é você, Helena? Fecho os olhos. Será que assim ele desaparece? Fecho os olhos e ele não está mais ali. Não... Quando abro vejo os olhos de Antônio. Negros. Escuros e profundos como sempre. A minha maldição, aqueles olhos. Mas me viro rápido. E nada respondo. Apenas pego a bolsa, tiro os sapados e começo a caminhar. O sol quente já se fora. Deixara apenas a lembrança de um mormaço, que inflama meu corpo. Sinto-me nua. E só, como jamais permitira. Atravesso a rua, corro para meu carro. Entro rápido. Parto mais rápido ainda. Chego em minha casa exausta e salva. Sem minhas sacolas... Entrego-me ao chuveiro e a água fria me acolhe. Acalenta minha pele desprovida. Os joelhos ressentem-se. Havia me esquecido e quase não suporto. Vão cicatrizar. Sempre cicatrizam. Depois, um sono desconfiado me envolve. Não sonho, não deliro, não permito. Escolhi a solidão. A ela me entrego todas as noites. Sem medo. Sem sobressaltos, nem afogamentos. A ausência, muitas vezes, é a melhor presença.
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008
Sem inspirar

Acordo, disposta e ansiosa. Sento diante da tela em branco e ela continua em branco o resto do dia. Isso já dura uma semana. Tenho prazos, meu Deus, tenho prazos! O tempo me cerca, pinica meu corpo, deixa meus pensamentos sem ar. Quase morrem. A ansiedade me consome, avassaladora, cruel, afiada. Pára, pára! Paro. Não insisto, desisto. Deixa pra lá... Calma, preciso ficar calma.................
Vou tomar um café, beliscar baboseiras. Demoro um pouco. Queria demorar muito. Mas volto logo. Sento, me acomodo novamente. Fecho os olhos pra não ver o branco em branco. Decido piscar uma idéia na anarquia. Mas elas se acotovelam mais. Me machucam, me beliscam. Eu grito! Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii...
Nada adianta. O que preciso está bem guardado, escondido. Ta até mofado.
Anteontem joguei tudo pro alto e fui pro cinema. Juno. Quase duas horas de um belíssimo filme. Quase duas horas de sossego. Paz. Queria viver naquela sala de emoções desocupadas. Cinema sozinha, uma boa história que não é minha. Pipoca gorda. Cheiro despreocupado. Mas os créditos vieram e voltei. Sentei, me acomodei novamente. E a tela, branca. Nada novo. Nada velho. Nada bom, nada ruim. Nada-nada-nada.
Ontem não suportei. Me joguei no sofá. Como num precipício, sabe? Como quem perde a partida final de um campeonato importante. Como quem sabe o ofício mas parece tomado por uma repentina amnésia que chega estúpida, sem propósito e sem medidas.
Hoje a tela tava branca novamente. Mas resolvi mudar isso e escrever. Sem porquês. É o que estou fazendo, meu caro. A tela não está mais branca. Agora quem está branca sou eu. Só eu.
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008
Por carta

Aqui estou vivendo de repente. Tudo acontece. Nada é programado.
Acordo cedo, mas só porque o corpo pede. Ele é quem manda. Faço exercícios ao ar livre. Me alimento de pensamentos inatos. Durmo com sonhos alheios e desperto com pesadelos próprios. Sim, os malditos vieram comigo. Pensa que é fácil escapar?
Ma um dia eles morrem. Tenho fé.
Mesmo assim, consegui abrir um vazio enorme para preencher de descobertas, novidades, conhecimentos, curiosidades, simplicidades, facilidades. Vida nova. Nova vida. Com cheiro de dia começando, fresquinho. Ar purificado. E muita água corrente, que traz e leva. Não pára, sabe? Cansei de água parada.
Também tem lugar para novas pessoas. Sem preconceitos, predeterminações, predestinações. Sem pré nenhum. Ah, e sem pressa. Agora o tempo é meu amigo. Não nos cobramos, não nos atormentamos. Há respeito entre nós. Só assim podemos conviver e quem sabe, um dia, até sermos felizes juntos. Tudo é possível agora.
Tem espaço para cores berrantes e calminhas. E para as mescladas. Os sabores que picam. E os que derretem. Tem lugar de sobra para aromas, cheiros, odores oriundos. Tem um canto quente e uma aresta gelada.
Reservo ainda uma esquina sem desencontros. E caminhos abertos que me levarão às ruas, estradas, rios, mares, cidades e países que esperam ansiosamente por mim. E onde deixarei percepções, sensações, arrepios, delicadeza, volúpia. Sentimento.
Tem um lugarzinho bem apertado para o medo. Porque assim ele me protege sem me machucar. Para a tristeza também não dou moleza. Ela já quase não vem mais.
O amor já se instalou. Na verdade, foi ele que me aconselhou a buscar a felicidade. Eu a vejo sempre. Visitamos-nos com freqüência e estamos convivendo muito bem. Ela traz consigo a simplicidade, que me tranqüiliza. E a facilidade. Nada é tão fácil, ela diz, sempre que me abraça.
Como você pode ver, tudo está bem por aqui.
Aprendo vivendo. Vivo aprendendo.
Vem pra cá comigo!
Um beijo.
sábado, 23 de fevereiro de 2008
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008
A caixa

É segredo. Coisa minha.
Pára. Não insista.
Aqui guardo o que não se mostra. O que ninguém jamais viu.
As lembranças abandonadas e as vontades esquecidas.
Os sonhos que nunca viveram.
As verdades nunca ditas.
E as mentiras juradas.
Guardo aqui as ilusões.
Os rancores e os amores.
Os sentimentos dissimulados
E as paixões dizimadas.
É aqui que escondo as lutas que não lutei.
Os caminhos perdidos e as trilhas jamais trilhadas.
Os mapas rasgados.
E as aventuras divagadas.
Aqui oculto o que me devora
A fome desnutrida e a sede não saciada.
O desejo proibido
E as aspirações censuradas
Abrigo aqui os gritos abafados
O verbo desconjugado.
Os detalhes não notados.
E a palavras encurraladas.
O que eu guardo nessa caixa?
Guardo o medo e a máscara.
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008
Café amanhecido

Ladainha

A janela, muitas vezes, é cruel.
Tive medo de abrir os olhos. De me mexer. Sentir que estava viva.
Não sabia se havia sol.
Muitas vezes não sabia.
Às vezes nada sei.
Penso que sei, mas não sei.
E nada me consome.
Nada é muito.
Verdade. O que é verdade?
O que é A verdade das coisas?
As coisas são reais?
O que é Ser real?
O que é ser?
Viver é o quê?
Será mesmo que quero saber?
O que é saber?
É ser?
Se não sei, não sou?
Agora a cama não mais me quer.
Preciso abrir os olhos e olhar.
Olhar é ver?
Meus olhos estão cegos.
Olho, mas não vejo.
Há dias em que não abro os olhos. Mas vejo.
Outros dias abro os olhos e nada vejo.
Em que dia sou mais feliz?
O que é Ser feliz?
Pronto. Abri os olhos. Está tudo vermelho.
Fugi da cama. Ali não era mais meu lugar.
E agora?
Era muito cedo e eu já de olhos para o mundo.
Que mundo?
Onde vivo?
Vivo?
Ah! Eu não quero. Não hoje.
Amanhã eu quero.
Vou viver até amanhã.
Posso morrer?
O que é morrer?
Será que já morri?
Alguém me chama.
Quem será?
Quem é quem? O que querem?
Eu quero o quê?
Por que será que todos sempre estão querendo?
Eu queria não querer.
E assim mesmo estou querendo.
Escrito em 2004
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008
Pode entrar

Acomode-se, fique à vontade. Vou te servir meus amores e desamores, com seus sabores apimentados e surpreendentes. Depois você vai se abarrotar com a minha coragem e se extasiar com minhas alegrias. Vou deixar que desvende meus desejos mais excitantes e os segredos mais abusados. Vem, pode escancarar meus pudores e comover-se com algumas lembranças. Claro, abuse do meu bom humor e ria minhas risadas. Vai sentir-se tão bem com doces aromas guardados e delicados sabores apurados, que irá guardá-los de recordação. Vai ter vontade de se aninhar nos meus carinhos e dormir com os meus sonhos. Também cobiçará minhas conquistas e vibrará minhas vitórias.
Mas tome cuidado nessa hora.
Você também vai se deparar com derrotas feias e envelhecidas, que teimam culpar os sucessos alcançados. Será perseguido por alguns pesadelos que ainda não matei. Sofrerá com a tristeza de minhas angústias e será traído por medos mascarados. Sentirá náuseas ao descobrir arrependimentos ocultos e terá vergonha de algumas atitudes que encontrará escondidas em algum canto sujo.
E, se ao fim de tudo isso, ainda estiver aqui (mas duvido, me desculpe!) experimentará uma deliciosa sensação macia e reconfortante, com cheiro de infância e gosto de felicidade.
Eu prometo.
terça-feira, 12 de fevereiro de 2008
Curto

O sorriso dele era engraçado. Ela não sabia se ele sorria ou ria. Dela. Mas arriscava corresponder. Mesmo com receio, ela sorria pra ele.
Os olhos dele também pareciam engraçados. Às vezes, meio debochados. Seria essa a sua natureza? Era um tímido debochado.
O olhar receoso dela cruzava com os olhos juntos dele.
Sempre riam. Mesmo de longe, riam.
Um dia conversaram. Ele era alto e desajeitado. Bonito e grande demais para sua timidez. Era sim um tímido engraçado. Não falava muito. A voz era grossa. Bonita. E a conversa, curta.
Um dia se beijaram. Na boca! Beijo pequeno. Curto.
O tempo. Os anos...
Um dia se encontraram. Transaram. Curto.
Grande, pequeno. Debochado.
Foi.
Escrito em 2004.
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008
Mundos

Em um mundo de magros, ser gorda era uma condenação.
Naquela tarde de um verão impossível, ela estava sozinha, suando, sentada na cadeira de balanço da varanda de sua casa, observando as meninas magras que brincavam na rua. De minuto a minuto a cadeira rangia, e a cada rangido, ela lembrava de sua condição. As bonitas são magras. As magras são bonitas. Ela não era. Era. Foi. Será.
Foi em um dos segundos suados daquela tarde eterna que ela sentiu um olhar morno, da rua, em sua direção. Com 13 anos, querendo ser o que não era, encontrou dois olhos sorrindo, de verdade. Sentiu um frio quente. Na rua, uma menina magra, longa e esguia a percebia. Naquele longo minuto ela era. E a comprida menina, de sorriso nos olhos, acenou. Ela, agora ela, não convidou.
Mas cadeira de balanço gritou mais alto. E então a magra entrou no jardim da casa.
Ficaram juntas, naquela varanda. Nada disseram por um intrínseco momento. Uma com o sorriso e a outra, com os olhos arregalados.
Ela existia. Era verdade. Descobriu-se no mundo que não era dela.
- Posso me sentar aqui? - Perguntou a menina longa.
Ela não sabia. Sequer conseguia.
- Posso? - Insistiu a comprida.
Com esforço, respondeu um soluçado sim.
Acomodou-se então, ali, com uma facilidade invejada.
- Sempre quis saber seu nome.
- Sou Lucinda... - disse sonâmbula.
- E eu Rita.
- E o que quer?...
- Conhecer você.
- Por quê?...
- Quero ser sua amiga, mas tive que criar coragem pra chegar até aqui. Não sabia se você ia gostar de mim.
As palavras lhe soaram estranhas e teve certeza de que falavam diferentes idiomas.
- Quer ir ao parque amanhã? - Continuou a longa menina magra, sentada aos pés da cadeira, que não parava de gritar.
- Não... - Disse dolorido. E com lenta rapidez, levantou-se daquela cadeira. Entrou na casa. Salva, trancou-se na cozinha, mas a fome nao estava lá. Fugiu para seu pequeno quarto, mas não conseguiu encontrar as suas coisas. Tinham desaparecido.
Escrito em 2001
quinta-feira, 31 de janeiro de 2008
quarta-feira, 30 de janeiro de 2008
Gosto

Gosto de dias ensolarados. E dos chuvosos.
Gosto de férias, de não ter o que fazer e fazer nada.
Gosto de cheiro de café com bolo de fubá.
Gosto de beijo na boca, de hálito de hortelã e cheiro de banho.
Gosto de cheiro de espuma de barbear e da pele lisinha do rosto do meu homem.
Gosto de sexo selvagem.
Gosto de ser admirada.
Gosto de chocolate com amêndoas, chocolate quente com conhaque em noites frias e muito sorvete de chocolate crocante em dias de verão.
Gosto de comer até passar mal.
Gosto de novela, de séries, enlatados.
Gosto de histórias de amor.
Gosto de cinema vazio e muita pipoca.
Gosto de ler. De pensar.
Gosto de acordar tarde e não ter hora pra dormir.
Gosto de recordar momentos especiais.
Gosto de sonhar acordada.
Gosto de sentir saudade.
Gosto de solidão.
Gosto de perceber um milagre.
Gosto de escrever me sentindo o deus das palavras.
Gosto de criar, de inventar.
Gosto de quando sinto a energia da vida.
Gosto de quando tenho coragem.
Gosto de surpresas agradáveis.
Gosto de espirrar.
Gosto de dar gargalhada.
Gosto de meus amigos sinceros e engraçados, cheios de amor, cheios de vida.
Gosto quando a vida por si me deixa feliz, sem precisar recorrer a estratagemas.
Gosto de quando sento em frente ao micro – assim como agora – e começo a escrever sem compromisso, apenas exercitando a liberdade que tenho aqui, a deliciosa sensação de que não há regras e que posso fazer o que quiser.
Gosto da liberdade, mas muitas vezes ainda me sinto presa a preconceitos, princípios, moral, medo, falta de um monte de coisas.
Nesses minutos insuportáveis sou o carrasco de mim.
Sou as muralhas e cada pedra fui eu que empilhei e selei.
Sou a cola, a porta, a fechadura.
Só não sei se sou a chave.
Texto escrito em 2003
domingo, 27 de janeiro de 2008
Uma família

Dona Lúcia, com seu 56 anos, era gorda. Professora, ensinava para viver. Calada, sobrevivia.
Seu Armando vivia para o Corinthians. Desde criança, este era o seu motivo. Tinha 60 anos.
Júlia queria ser atriz. Menina bonita, tinha 16 anos. Muitos amigos, vivia sorrindo. Mas, dentro de seu pequeno quarto, vivia chorando.
Miguel era feliz. Tinha 12 anos e ainda não sabia.
Dona Lúcia ficava feliz com a novela das oito. Acordava pensando nas personagens e rezava para o tempo voar.
Seu Armando trabalhava como um robô. Fazia tão bem seu trabalho que nem sabia por quê. Mas fazia. Sempre foi assim. E só era feliz no gol do Timão.
Júlia nem se lembrava quem era. Gostava tanto das aulas de teatro do colégio. E devorava Clarice Lispector.
Miguel gostava de beijar a mãe. Assistir o jogo do Corinthians com o pai. Debochava da irmã.
Um dia, dona Lúcia perdeu a novela. Seu Miguel ficou triste com o Corinthians. Júlia se apresentou na peça de fim de ano da escola. Brilhou no papel de Alaíde, a neurótica e oportunista noiva de “Vestido de Noiva”, do extasiante Nelson Rodrigues.
Brilhou tanto que agora queria ser Alaíde.
Miguel não entendeu.
Dona Lúcia se fez de entendida.
Seu Armando praguejou.
Mas Júlia já não mais era. Júlia, enfim, foi.
E a família, que nunca existiu mesmo...
Escrito em 20/junho/2004
Paralelo

Rogério tinha 13 anos, mas seu cérebro era mais velho. Seu pai dizia que era de outro mundo, o que ele encarava como outra galáxia. Sua mãe não o compreendia e quando ele fazia aquelas perguntas complexas, ela arregalava os olhos e gaguejava, depois piscava, e respondia com outra pergunta. "De onde você tirou isso, menino?"
E ele ficava ainda mais confuso, mas acostumado.
Na escola, todos o estudavam. Seus professores riam, muitas vezes, de suas conclusões e interrogações mais que precoces... Absurdas!
Ficção científica era seu forte, mas não acreditava em ficção. Apenas no científico. Para ele, havia seres extraterrestres entre nós e poderíamos, inclusive, ser seus descendentes. Sabia que o universo era infinito... Mas questionava o infinito e sua grandeza. Dizia que tamanho não existia e sim proporções. Que podíamos todos fazer parte de um átomo que formava outro mundo e este, por sua vez, se fazia em outro, e assim por diante. Acreditava que tempo e espaço eram os fundamentos de tudo e a vida era algo inexplicável e mágico. Sabia que existem várias esferas de vida, outras dimensões, mundos paralelos e diversos desfechos para qualquer história.
Quando cresceu, parou de perguntar. Passou a observar, refletir, meditar. Ficou velho e morreu pensando. Hoje está em outra esfera, pensando que poderia ser um átomo, uma formiga, um ET.
Amanhã ele parou de pensar e resolveu estudar literatura. Depois de amanhã é jogador de futebol. Outro dia foi responsável pelo fim deste mundo.
Ou daquele?
Rogério pirou.
Escrito em 2001.
quinta-feira, 24 de janeiro de 2008
Mas começo como?
Ter um blog hoje, eu sei, é banal. Afinal, há de todos os tipos, cores e sabores: já andei bisbilhotando... Mas pra mim é novidade. Há tempos quero arriscar e sempre invento uma desculpa e deixo pra depois.
Pois o depois chegou, enfim. Hoje, tomando um café no shopping, fui encorajada por uma amiga querida (uma escritora de raro talento, que ainda será muito famosa, eu sei!) que me incentivou, botou uma pilhazinha e cá estou eu escrevendo isso aqui, ai ai... Nem sei no que vai dar, mas vamos lá... Acabei de criar o "Sem Crase", bem no espírito de sem crise. E, assim, pretendo usá-lo para publicar meus textos, idéias, imagens, traços, riscos e muitos rabiscos, sem medo.
Frio na barriga e vamos lá.
Abaixo estou publicando um texto que tenho engavetado há alguns anos. Vou começar com ele... Pois, de certa forma, acho que merece estar aqui:

Buterfly
Sonhei com borboletas.
Quero ser levada por elas quando morrer.
Elas têm que estar lá!
Borboletas são os anjos do paraíso.
A vida pós-morte.
Vida eterna.
Beleza bonita e quieta.
Alegres, vivas. Leves.
Livres.
Sorrisos coloridos no ar.
Quando morrer, quero ser levada por elas.
Flutuar sorrindo. Gargalhar colorindo.
Viver eterna. Sorrir pra sempre.
Êxtase de vida na morte
Ruptura. Abre-fecha.
Vida.
Borboleta.
Pois o depois chegou, enfim. Hoje, tomando um café no shopping, fui encorajada por uma amiga querida (uma escritora de raro talento, que ainda será muito famosa, eu sei!) que me incentivou, botou uma pilhazinha e cá estou eu escrevendo isso aqui, ai ai... Nem sei no que vai dar, mas vamos lá... Acabei de criar o "Sem Crase", bem no espírito de sem crise. E, assim, pretendo usá-lo para publicar meus textos, idéias, imagens, traços, riscos e muitos rabiscos, sem medo.
Frio na barriga e vamos lá.
Abaixo estou publicando um texto que tenho engavetado há alguns anos. Vou começar com ele... Pois, de certa forma, acho que merece estar aqui:

Buterfly
Sonhei com borboletas.
Quero ser levada por elas quando morrer.
Elas têm que estar lá!
Borboletas são os anjos do paraíso.
A vida pós-morte.
Vida eterna.
Beleza bonita e quieta.
Alegres, vivas. Leves.
Livres.
Sorrisos coloridos no ar.
Quando morrer, quero ser levada por elas.
Flutuar sorrindo. Gargalhar colorindo.
Viver eterna. Sorrir pra sempre.
Êxtase de vida na morte
Ruptura. Abre-fecha.
Vida.
Borboleta.
Assinar:
Postagens (Atom)