quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Pode entrar

O que está olhando? Pára com isso e vai cuidar de sua vida, que deve estar muito chata para você ficar bisbilhotando a minha. Ah é, vai continuar aí, parado, olhando? E rindo, ainda por cima... Pois bem, continue. Nem ligo. Melhor: vou deixar você entrar.
Acomode-se, fique à vontade. Vou te servir meus amores e desamores, com seus sabores apimentados e surpreendentes. Depois você vai se abarrotar com a minha coragem e se extasiar com minhas alegrias. Vou deixar que desvende meus desejos mais excitantes e os segredos mais abusados. Vem, pode escancarar meus pudores e comover-se com algumas lembranças. Claro, abuse do meu bom humor e ria minhas risadas. Vai sentir-se tão bem com doces aromas guardados e delicados sabores apurados, que irá guardá-los de recordação. Vai ter vontade de se aninhar nos meus carinhos e dormir com os meus sonhos. Também cobiçará minhas conquistas e vibrará minhas vitórias.
Mas tome cuidado nessa hora.
Você também vai se deparar com derrotas feias e envelhecidas, que teimam culpar os sucessos alcançados. Será perseguido por alguns pesadelos que ainda não matei. Sofrerá com a tristeza de minhas angústias e será traído por medos mascarados. Sentirá náuseas ao descobrir arrependimentos ocultos e terá vergonha de algumas atitudes que encontrará escondidas em algum canto sujo.
E, se ao fim de tudo isso, ainda estiver aqui (mas duvido, me desculpe!) experimentará uma deliciosa sensação macia e reconfortante, com cheiro de infância e gosto de felicidade.
Eu prometo.

Um comentário:

Pratas Diversas disse...

Luci, linda, leve, lírica, livre, minha amiga... adorei espiar mais um pouquinho da sensibilidade com que trata as palavras. Você me traz lembranças doces, o cheiro de infância, de crescimento, aprendizado e sabedoria, que você, isso mesmo, você fez parte e ajudou a construir dentro de mim. Me incentivou a acreditar que as letras constroem um mundo de encantos, que tanto pode ser nosso, quanto compartilhado com outros. Obrigada, minha professora, lembra? Amo você, perdoe a ausência, mas você sabe que mesmo com a distância continuamos unidas pela sensibilidade que nos guia.