segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Ladainha

Tive medo de acordar e abrir a janela.
A janela, muitas vezes, é cruel.
Tive medo de abrir os olhos. De me mexer. Sentir que estava viva.
Não sabia se havia sol.
Muitas vezes não sabia.
Às vezes nada sei.
Penso que sei, mas não sei.
E nada me consome.
Nada é muito.
Verdade. O que é verdade?
O que é A verdade das coisas?
As coisas são reais?
O que é Ser real?
O que é ser?
Viver é o quê?
Será mesmo que quero saber?
O que é saber?
É ser?
Se não sei, não sou?
Agora a cama não mais me quer.
Preciso abrir os olhos e olhar.
Olhar é ver?
Meus olhos estão cegos.
Olho, mas não vejo.
Há dias em que não abro os olhos. Mas vejo.
Outros dias abro os olhos e nada vejo.
Em que dia sou mais feliz?
O que é Ser feliz?
Pronto. Abri os olhos. Está tudo vermelho.
Fugi da cama. Ali não era mais meu lugar.
E agora?
Era muito cedo e eu já de olhos para o mundo.
Que mundo?
Onde vivo?
Vivo?
Ah! Eu não quero. Não hoje.
Amanhã eu quero.
Vou viver até amanhã.
Posso morrer?
O que é morrer?
Será que já morri?
Alguém me chama.
Quem será?
Quem é quem? O que querem?
Eu quero o quê?
Por que será que todos sempre estão querendo?
Eu queria não querer.
E assim mesmo estou querendo.

Escrito em 2004

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