quinta-feira, 10 de julho de 2014

Minha manhã de domingo

O domingo começou cedo. A luz era de uma amarelo-alaranjado que aconchegava feito o colo quente da minha avó Leonor. Estávamos naquela praça arborizada, com coreto no meio. Havia verde fresquinho, bancos de madeira, aromas da infância, sabores de saudade. Havia artistas expondo quadros, esculturas, artesanato, bijuterias, enfim, gente feliz vivendo de talento. Havia criança correndo, pulando, pedalando. Ingênuos alegres. Havia uma roda de samba. Havia Samba de raiz da melhor qualidade. Ensaiando um chorinho. Havia Noel Rosa. E Noel Rosa numa manhã amarela de domingo é o paraíso na Terra. Um ensaio da felicidade. Estávamos ali, todos nós, a família em família. Alegres Ingênuos. Não havia melhor lugar, nem momento mais fácil pra ser feliz. Meu refúgio, meu porta-retrato. É prá lá que eu volto nos dias em que morro.  

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Carta


Não sei bem como começar esta carta, mas creio já ter começado, não é? Pois bem, então, como vai você? A família, os colegas de trabalho, os amigos, os inimigos? E os meus cachorros que ficaram aí contigo? Como vão as minhas coisas?

Aqui estou vivendo de repente. Tudo acontece. Nada é programado.

Acordo cedo, mas só porque o corpo pede. Ele é quem manda. Faço exercícios ao ar livre. Me alimento de pensamentos inatos. Durmo com sonhos alheios e desperto com pesadelos próprios. Sim, os malditos vieram comigo. Pensa que é fácil escapar?
Mas um dia eles morrem. Tenho fé.

Mesmo assim, consegui abrir um vazio enorme para preencher de descobertas, novidades, conhecimentos, curiosidades, simplicidades, facilidades. Vida nova. Nova vida. Com cheiro de dia começando, fresquinho. Ar purificado. E muita água corrente, que traz e leva. Não pára, sabe? Cansei de água parada.

Também tem lugar para novas pessoas. Sem preconceitos, predeterminações, predestinações. Sem pré nenhum. Ah, e sem pressa. Agora o tempo é meu amigo. Não nos cobramos, não nos atormentamos. Há respeito entre nós. Só assim podemos conviver e quem sabe, um dia, até sermos felizes juntos. Tudo é possível agora.

Tem espaço para cores berrantes e calminhas. E para as mescladas. Os sabores que picam. E os que derretem. Tem lugar de sobra para aromas, cheiros, odores oriundos. Tem um canto quente e uma aresta gelada.

Reservo ainda uma esquina sem desencontros. E caminhos abertos que me levarão às ruas, estradas, rios, mares, cidades e países que esperam ansiosamente por mim. E onde deixarei percepções, sensações, arrepios, delicadeza, volúpia. Sentimento.

Tem um lugarzinho bem apertado para o medo. Porque assim ele me protege sem me machucar. Para a tristeza também não dou moleza. Ela já quase não vem mais.

O amor já se instalou. Na verdade, foi ele que me aconselhou a buscar a felicidade. Eu a vejo sempre. Visitamos-nos com freqüência e estamos convivendo muito bem. Ela traz consigo a simplicidade, que me tranqüiliza. E a facilidade. Nada é tão fácil, ela diz, sempre que me abraça.

Como você pode ver, tudo está bem por aqui.
Aprendo vivendo. Vivo aprendendo.
Vem pra cá comigo!

Um beijo.


(*) Publicado originalmente neste blog em fev./2008

sábado, 24 de maio de 2014

O que eu quero? O que quero é tanto... Não cabe aqui. Um tanto que aparenta nada. E me preenche. Porque o que eu quero, de verdade, nem sei ainda como se chama ou pronuncia. É feito de serenidade e contentamento. Ser o que sou. Sem vestígio de aversão. Inteira. Pronto, é isso. O apenas e o todo. Respondi a sua pergunta?

(sem ilustração)