sexta-feira, 1 de outubro de 2010

SEM PALAVRAS


Hoje estou impassível. Semi anestesiada pelo que deixei de sentir.

As palavras não me reconheceram quando as procurei, há pouco. Devem estar entediadas com a minha ausência sem fim. Bateram a porta pra mim. Devo ter envelhecido essa semana. Sinto uma lassidão mal inspirada. Quase envolve as poucas boas ideias que restam aturdidas. Faço uma serenata de amor pras minhas letras sentirem. Tom Jobim da melhor safra. Bossa......... Nova.............

Mas nem assim. Elas chegam a se juntar e logo descobrem minhas rugas anestesiantes. Separam-se, claro.

Desculpe. Hoje não é dia mesmo.

...

Mas amanhã eu volto!

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Minhas palavras no mundo


Sentem fome de letras seminuas inacabadas. De correr ensandecidas entre metáforas estonteantes e destoadas. São palavras-furacão. Aprisionadas, fingem ser brisa leve. Mas o apetite é insaciável. Almejam minha inventividade, mesmo que mal criada, bem temperada. Com aromas coloridíssimos. Afrodisíacos que derramam como bem faria Dalli. Tenho meus pincéis na mente. E palavras não escritas nas veias. Ávidas por tintas ainda opacas, realçadas em ansiedades criativas. Querem a liberdade prometida. Exigem a Pasárgada de Bandeira. Corroem-me em sentimentos profusos de um antigo reciclado. Não cansam de criar, madurar, depois deteriorar. Não morrem. Revivem. Mudam. E nunca me saciam.

Pronto, ok? Já escrevi vocês. Agora posso dormir um pouco?

sábado, 28 de agosto de 2010

Tem rima


Tem amor que perde a validade.
Mas vive de infinidade.

Tem amor que perde a hora.
Mas nunca vai embora.

Tem amor que segue em frente.
Mas finge que não sente.

Tem amor que não desiste.
Mas isso eu já disse.

Tem amor que não rima: se basta.
Porque é um só.
O resto é que faz rima.
Clichê.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Eu


E por que há de ser perfeita?
Não posso somente ser?
Apenas e simplesmente?
Sem culpa.
Sem medo.
Sem vácuo.

Estou aqui. Despida e cansada.
Inteira.
Com minhas falhas e meus defeitos.
Expostos. Chocados e amedrontados.
Atormentam, eu sei.
Mas, sim, meu caro, me completam.
Partes importantes de mim.

Essa sou eu, enfim.
Doce-amargo. De paladar intenso.
E sabor aguçado, com gosto da verdade.
A minha verdade.

Meu eu desvendado.
Destelhado.
Libertado, alforriado, emancipado.

Eu.

Enfim.

* Liberdade, meu caro, existe somente na ausência desprovida desprendida desatada solitária. É utopia, ideal, quimérica. Não há como explicar em nenhuma língua conhecida. Não hoje, não agora, não aqui. E mesmo assim, tenho esperança.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

PALAVRAS DIFÍCEIS*


Estou muito cansada pra argumentar, discutir, debater, aventar, controverter, agitar. Hoje também não quero metáforas. Tampouco figuras exacerbadas. Mas palavras difíceis são bem-vindas. Porque hoje estou inexorável. Não quero falar em sentir. Quero apenas minutar. Digitar as letras sem pactos. Com nenhuma comiseração. Estou assim. Em branco. Acho que estou documento hoje. Documento rápido. Sem burocracia que apoquenta. Sem meias-verdades. Direto. É assim que quero pra mim hoje. Tudo célere. Certeiro. Mas palavras difíceis são bem-vindas, eu friso. Pra muitas vezes ficar sem entender. Mesmo que seja rápido e eficaz. Porque nem sempre entender é o caminho. Muitas vezes prefiro o abstruso. Porque não sei o que significa ou expressa. Está apenas ali: a palavra jogada, hirsuta e destoada. Esperando ser, quem sabe, um dia. Ou não.

*A pedido de uma amiga, estou republicando este texto postado originalmente neste mesmo blog, no dia 7 de maio de 2008.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Nada


Semicircula em mim um desejo semicerrado. Um fome incompleta. Uma falta desprovida. Um vácuo inócuo. Um algo desolado. Inacabado e impossível. O branco invisível assola a dor atormentada por estar desprovida de sentir. Que é, meu Deus, que machuca sem doer?

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Um minutinho


Hoje, depois de meses ausente, voltei um minuto. Ou dois. E em segundos pude, enfim, voar. Não por horas. Mas uma fatia fina de tempo. Isso: me esqueci, por ricos milésimos de segundo do minuto da hora extraviada, que há ponteiros no controle... Por isso abri as asas quase atrofiadas. Elas não esqueceram como voar. E sorriram, como se isso realmente fosse possível.

É promessa: vou voltar!