sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Restos

O que me resta se não ficar aqui, sentada, com as pernas encolhidas e o vestido vermelho que mais gosto molhado pelas lágrimas? Nada. A não ser um resquício de mim. Que é nada. Nada vestida de vermelho. Sobrevivo dessa agonia. Sim, porque é o que me resta. O que mais posso fazer? Responda! Não quero mais ser sustentável, porque os pretextos se perderam. Sou ideologia cansada. Um complicado sistema de idéias. Idéias secas. Tornei-me paliativa? Sim. Não há mais cor de vontade em mim. A não ser o vestido vermelho que me rende. O tudo agora é nada. A vida partiu-se. A morte ainda não veio. Estou por um fio. Um fio que nada tece. Um fio de nada. Frágil, arrebenta. Isso é o que me tornei. E, olha, não adianta me olhar com esses olhos incrédulos. Não me importo com seu olhar. Nem vejo você, sabia? Apenas sinto o seu cheiro. E já fico nauseada. Isso mesmo. Tenho náusea de gente. Quero apodrecer aqui. Sozinha. Eu, com o pouco que resta. Não quero ajuda. Piedade, pode até sentir. Nem indignada fico. Sou indiferente aos sentidos alheios. Emoções não me tocam. Pode rir, também, se quiser. Não me importo. E depois de rir bastante, me deixe sozinha, com o meu vestido vermelho. Aqui, para o não morrer.

13 comentários:

Joice Worm disse...

Depois de tempos de fadas, retornas tão triste...
Não sei o que dizer, Luci. Espero mesmo que não tenha que consolar, já que não desejas. E que o texto seja uma idéia de melancolia de uma pesonagem. Não a escritora.
Não acreditaria...
De qualquer forma, adorei o seu retorno! Um Muac para ti, linda!

Friendlyone disse...

Hey Lucci! Bom ler texto seu aqui!

Como sempre profundo. To aqui imaginando no que pensavas enquanto escrevias.

De vez em quando "ouço" falar em vc. Espero que esteja bem.

Abraço!
Carla.

Ilaine disse...

Oi, Luci!

Que bom tê-la aqui novamente.

Nossa, achei muito triste o seu texto, a começar com o título. Também penso como a Joice, tomara que este "eu" seja apenas uma ficção.

Saudades de você!

Beijo

Camilla Tebet disse...

Taí o tal fluxo de consciência ed que falávamos. Profundo sim, cheio de palavras grandes. Atualiza mais. Fazes falta.

aluaeasestrelas disse...

Demorou, mas você retornou. Mais densa, com uma tristeza de quem já caminhou e agora quer ver apenas o tempo passar quietinha, sentada e sozinha. Mas até esse "resto" passa. E com ele, toda nuvem negra... Abrindo espaço para um arco-íris.

Que bom que voltou a nos brindar com suas palavras. Beijos e ótima semana!!!

Letícia disse...

Um Nada de vestido vermelho. Tem dias que pode ser a ropua que for, mas a gente se sente nada.

E voltei a ler vc. Eu não tinha esquecido, mas agora coloquei uma lista de blogs que me mostra os atualizados. E sim, seu trabalho continua sempre. Já não conversamos mais, o tempo não ajuda, mas você continua escrevendo. Desejo outros mil textos pra vc.

Bjs.

Letícia

E não sei se a Camilla te falou, mas o Cosmic fechou. Tenho outro espaço agora.

http://diariosdealice.blogspot.com/

Leandro Neres disse...

Descobri hoje teu blog. Minha nossa. Mas eu li.
Voltarei.
Abraços
Leandro

Narradora disse...

Fadiga densa essa do texto... Mas vestido vermelho não é roupa que se vista pra desistir.
Esperando o próximo. ;)
Bjs

Toninho Moura disse...

É muita tristeza para um vestido vermelho.

Jacinta Dantas disse...

Bonito, menina. Triste, mas bonito. Percebo, no som melancólico das letras, uma dicotomia em nós bem amarrados entre a aridez e a energia; o querer e o não querer; o ser e não ser. E, na ponta, há uma saída. O vermelho que insiste em ser pulsante.
Beijos e bom final de semana.

Jacinta Dantas disse...

Passei para te deixar um abraço.

Anônimo disse...

O solitário agrega o tudo!

bjos

Anônimo disse...

Voltando para ver se há algo novo... mas, velho em mim se faz novo...


bjo