sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Restos

O que me resta se não ficar aqui, sentada, com as pernas encolhidas e o vestido vermelho que mais gosto molhado pelas lágrimas? Nada. A não ser um resquício de mim. Que é nada. Nada vestida de vermelho. Sobrevivo dessa agonia. Sim, porque é o que me resta. O que mais posso fazer? Responda! Não quero mais ser sustentável, porque os pretextos se perderam. Sou ideologia cansada. Um complicado sistema de idéias. Idéias secas. Tornei-me paliativa? Sim. Não há mais cor de vontade em mim. A não ser o vestido vermelho que me rende. O tudo agora é nada. A vida partiu-se. A morte ainda não veio. Estou por um fio. Um fio que nada tece. Um fio de nada. Frágil, arrebenta. Isso é o que me tornei. E, olha, não adianta me olhar com esses olhos incrédulos. Não me importo com seu olhar. Nem vejo você, sabia? Apenas sinto o seu cheiro. E já fico nauseada. Isso mesmo. Tenho náusea de gente. Quero apodrecer aqui. Sozinha. Eu, com o pouco que resta. Não quero ajuda. Piedade, pode até sentir. Nem indignada fico. Sou indiferente aos sentidos alheios. Emoções não me tocam. Pode rir, também, se quiser. Não me importo. E depois de rir bastante, me deixe sozinha, com o meu vestido vermelho. Aqui, para o não morrer.