Não sei bem como começar esta carta, mas creio já ter
começado, não é? Pois bem, então, como vai você? A família, os colegas de
trabalho, os amigos, os inimigos? E os meus cachorros que ficaram aí contigo?
Como vão as minhas coisas?
Aqui estou vivendo de repente. Tudo acontece. Nada é
programado.
Acordo cedo, mas só porque o corpo pede. Ele é quem manda.
Faço exercícios ao ar livre. Me alimento de pensamentos inatos. Durmo com
sonhos alheios e desperto com pesadelos próprios. Sim, os malditos vieram
comigo. Pensa que é fácil escapar?
Mas um dia eles morrem. Tenho fé.
Mesmo assim, consegui abrir um vazio enorme para preencher
de descobertas, novidades, conhecimentos, curiosidades, simplicidades,
facilidades. Vida nova. Nova vida. Com cheiro de dia começando, fresquinho. Ar
purificado. E muita água corrente, que traz e leva. Não pára, sabe? Cansei de
água parada.
Também tem lugar para novas pessoas. Sem preconceitos,
predeterminações, predestinações. Sem pré nenhum. Ah, e sem pressa. Agora o
tempo é meu amigo. Não nos cobramos, não nos atormentamos. Há respeito entre
nós. Só assim podemos conviver e quem sabe, um dia, até sermos felizes juntos.
Tudo é possível agora.
Tem espaço para cores berrantes e calminhas. E para as
mescladas. Os sabores que picam. E os que derretem. Tem lugar de sobra para
aromas, cheiros, odores oriundos. Tem um canto quente e uma aresta gelada.
Reservo ainda uma esquina sem desencontros. E caminhos
abertos que me levarão às ruas, estradas, rios, mares, cidades e países que
esperam ansiosamente por mim. E onde deixarei percepções, sensações, arrepios,
delicadeza, volúpia. Sentimento.
Tem um lugarzinho bem apertado para o medo. Porque assim ele
me protege sem me machucar. Para a tristeza também não dou moleza. Ela já quase
não vem mais.
O amor já se instalou. Na verdade, foi ele que me aconselhou
a buscar a felicidade. Eu a vejo sempre. Visitamos-nos com freqüência e estamos
convivendo muito bem. Ela traz consigo a simplicidade, que me tranqüiliza. E a
facilidade. Nada é tão fácil, ela diz, sempre que me abraça.
Como você pode ver, tudo está bem por aqui.
Aprendo vivendo. Vivo aprendendo.
Vem pra cá comigo!
Um beijo.
(*) Publicado originalmente neste blog em fev./2008