domingo, 9 de março de 2008

Apenas o começo de uma provável história

Contrariando a expectativa da menina, aquele dia amanhecera claro e de um azul infinito. Não combinava em nada com o que ela estava vivendo – mas estava vivendo. E, por isso, seus olhos recusavam-se a abrir. Ela não queria enfrentar. Estava cansada. Uma tristeza branca invadiu seu corpo, que ficou ainda mais reticente. Meu Deus, preciso levantar. Preciso. E foi com uma energia esvaída que Stella abriu os olhos. Com uma lentidão pesada, ergueu-se da cama estreita onde passara a primeira de muitas noites que ainda viriam. O quarto era apertado para as duas camas e a pequena mesa. Mas só ela dormia ali, naquela manhã. As paredes estavam úmidas e com a pintura envelhecida. Descascava com facilidade. Não havia quadros, apenas uma janela para o mundo, com uma fresta laranja de sol nascente avisando que a vida continuava. Isso além das camas, a mesa, o teto, o piso, Stella e um vazio que não cabia naquele cômodo mofado.
Stella Teresa Rizzo havia chegado à casa dos portugueses na noite anterior. Trazia consigo uma pequena valise desbotada com algumas poucas roupas velhas. Usava um vestido não menos desbotado, sapatos surrados e empoeirados pela viagem de sua casa, na fazenda Esperança, até ali. Seus cabelos castanhos estavam emaranhados e presos em um coque. E seus olhos verdes eram opacos e despretensiosos. Ela tinha 15 anos e não sabia, ainda, a bela mulher que podia ser. Seu corpo grande e ossudo a deixava um tanto desengonçada e escondia segredos que nem ela conhecia. Seu andar era arrastado. Estava chegando àquela casa para ajudar na limpeza e se casar. Seus pais precisavam sobreviver.

Esta é uma narrativa que escrevi de supetão, há algum tempo, com a pretensão de que pudesse dar prosseguimento, mas acabei engavetando... Hoje resolvi publicar pois assim, quem sabe, consigo dar continuidade a ela, melhorá-la... E se você, meu caro, quiser palpitar, criticar, dar idéias, sugerir, até mesmo dividir essa história... Tudo tudo será muito bem vindo!

7 comentários:

João Neto disse...

Luci,

Não li nada ainda, já passou da minha hora, estou com um sono terrível. Mas não resisti em comentar que adorei o nome do blog. Se pudesse já teria lançado a crase ao fogo, mas...

Xero, depois venho com mais coragem e menos sono...

Letícia disse...

Na minha opinião, o texto está completo. Não precisa melhorar, completar ou enfeitar com nada. A frase final já nos dá a imagem inteira do mundo. E foi uma viagem e tanto.

"Seus pais precisavam sobreviver."

(Luci)

E agradeço de coração a forma como vc comenta os meus textos. Se tornou parte deles também e se tenho talento, você me acompanha com os mesmos adjetivos. Escrevemos e isso nos salva.

Bjs...

Anônimo disse...

Lindo! Um belo começo. Descrição perfeita, cheia de sentimento, com lugar, hora, razão... òtimo.
Camilla Tebet
www.essepapo.nafoto.net

Friendlyone disse...

Luci, Luci, Luci!!! Se rolar um conto acompanho...gosto muito, muito mesmo. Ainda mais se for escrito por vc.

Beijos
:-)))

Beto Mathos disse...

Como de costume, belo texto, narrativa detalhada. Ousaria dizer que senti algo de "Almodóvar" no ar. Quanto à continuidade, espero ansioso, assim como o texto que já deve estar fervilhando nessa cabeça de poeta.
Bravo!

João Neto disse...

E nada de engavetar textos!!! Eles devem ser expostos sempre!!

Pratas Diversas disse...

Adoro acompanhar suas histórias, me envolvo, sinto, me realizo. Estou muito feliz com as mensagens carinhosas que deixa pra mim, um bjo no coração minha querida poeta. Obrigada pelo incentivo.