
Acordo, disposta e ansiosa. Sento diante da tela em branco e ela continua em branco o resto do dia. Isso já dura uma semana. Tenho prazos, meu Deus, tenho prazos! O tempo me cerca, pinica meu corpo, deixa meus pensamentos sem ar. Quase morrem. A ansiedade me consome, avassaladora, cruel, afiada. Pára, pára! Paro. Não insisto, desisto. Deixa pra lá... Calma, preciso ficar calma.................
Vou tomar um café, beliscar baboseiras. Demoro um pouco. Queria demorar muito. Mas volto logo. Sento, me acomodo novamente. Fecho os olhos pra não ver o branco em branco. Decido piscar uma idéia na anarquia. Mas elas se acotovelam mais. Me machucam, me beliscam. Eu grito! Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii...
Nada adianta. O que preciso está bem guardado, escondido. Ta até mofado.
Anteontem joguei tudo pro alto e fui pro cinema. Juno. Quase duas horas de um belíssimo filme. Quase duas horas de sossego. Paz. Queria viver naquela sala de emoções desocupadas. Cinema sozinha, uma boa história que não é minha. Pipoca gorda. Cheiro despreocupado. Mas os créditos vieram e voltei. Sentei, me acomodei novamente. E a tela, branca. Nada novo. Nada velho. Nada bom, nada ruim. Nada-nada-nada.
Ontem não suportei. Me joguei no sofá. Como num precipício, sabe? Como quem perde a partida final de um campeonato importante. Como quem sabe o ofício mas parece tomado por uma repentina amnésia que chega estúpida, sem propósito e sem medidas.
Hoje a tela tava branca novamente. Mas resolvi mudar isso e escrever. Sem porquês. É o que estou fazendo, meu caro. A tela não está mais branca. Agora quem está branca sou eu. Só eu.