sábado, 31 de maio de 2008

purple

Cheguei tarde.
Você já havia partido.
Atrasei-me pois pensei ter entendido.
As palavras tinham significado de dicionário.

Eu não sentia. Apenas entendia.

E isso, acredite, fez a diferença.
Provocou esse maldito desencontro.
E acabou nessa meia vida mal vivida.
Agora só tenho você em sonho.
Nunca mais e pra sempre.
Coroado e glorificado.
Eternizado.
Ingênuo devaneio meu.
Deslumbre da minha quietude.
Por isso é eterno, não é?
Porque quem fica em sonho, tudo pode.
Responda, nem que seja na minha imaginação.
Mas responda, por favor.
Você volta?
Não me vire as costas.
Não em sonho.
Me fascina com seu verde no delírio da noite mal dormida.
Seja a ilusão da minha vida.
A minha quimera apaixonada.
Seja a miragem nos dias de areia nos olhos.
Quando as vozes alheias me arderem os ouvidos.
Seja minha utopia.
Minha dor e minha delícia.
Mas seja.
Esteja pra mim. Deseja comigo. Lateja em mim.
Me realiza.
Me finda com sua felicidade fantasiosa.
E me veja com os meus olhos de fantasia.
Uma só vez.
De verdade ou não.
Vida ou não.
Eu e você, ou não.
Você.
Sempre você.
Sua essência em meu coma.

domingo, 25 de maio de 2008

Chega de viagens no tempo

Tenho uma máquina do tempo. Aqui mesmo, do meu lado. Mas me deixa muito nervosa: ela só funciona quando quer. Não tenho controle nenhum sobre suas idas e vindas.
Outra coisa: difícil viajar pro futuro. Ela ocasionalmente me leva alguns segundos à frente. Mas pisco os olhos e volto pra cá, pro presente.
Pro passado ela volta com freqüência. Devolve-me sentimentos escondidos.
Alegra-me e me assombra essa máquina...
Sabe de uma coisa? Vou me livrar dela. Jogá-la em um buraco bem fundo.
Desfazer-me de lembranças? Jamais, são meus tesouros. Mas quero apenas guardá-las. Não revivê-las.
E, sobre o futuro... Quando ele tornar-se meu presente, aí sim eu vou vivê-lo.
E depois, quando então tornar-se meu passado... Aí eu te conto.
Sem medo.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Para Ana e André

Tem amor que acontece.
Simples assim: amor de verdade.
Chega complacente.
Despretensioso, num breve olhar de sol nascente.
E torna-se quente de repente.
Sorrateiro, instala-se.
Traça seu enredo, ali, no primeiro beijo.
Sim, veio pra ficar.
Envolve, destoa e entoa.
E fica!
Tece a própria teia e não tem hora pra ser.
Apenas é. Simples assim: amor de verdade.
Amor consumado no amor.
Feito de amor.
Regado no amor.
Amor que gera amor.
Dribla o tempo.
E surpreende, dia-a-dia.
Feliz em ser o que é.
Em amar só de amor.
Em renovar-se no amor.
Pra celebrar esse amor.
Simples assim: amor de verdade.

* Para Ana e André, despretensiosamente.
Estou longe de ser romântica. E ainda concordo com Fernando Pessoa: todas as cartas de amor são ridículas... Mas falar de Ana e André sem ousar no amor, não é falar de Ana e André... É assim que os vejo, que os sinto. Assim os admiro.
Esta foi, portanto, uma singela homenagem a uma história de amor de verdade, que será oficializada amanhã. Uma homenagem a duas pessoas que se amam na simplicidade do cotidiano e que sei, se apaixonam todos os dias. Sempre.
À minha eterna e querida amiga Ana Cláudia, menina romântica que se tornou uma mulher apaixonada pela vida. E que junto ao André, construiu uma história linda, abençoada por anjos: Helena e Isabela!

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Sem flores

Ela percebeu, enfim, que não receberia flores naquele dia que até então acreditava ser especial. Entendeu que não era assim tão especial quanto desejava. Não era, oras. E ponto final. Entendeu que de amor não compreendia. Apenas sentia. Queria ser amada como na época em que ainda sonhava. Porque trazia consigo um pedacinho daquele sonho de menina romântica. E ele era renovado todo santo dia, sem que ninguém suspeitasse.
Queria muito ter o carinho daquele amor. Porque havia sim, muito, muito amor ali. Mas não do jeito que sonhara: queria ser surpreendida ao nascer do sol, ganhar estrelas de presente, se deliciar em beijos pretensiosos e se embebedar de uma paixão embarcada no clamor. Não precisava ser assim todo dia. Só de vez em quando. Mas tinha que existir aquele amor encomendado.
Ela ainda não sabia que amor é amor. Simples assim. Completo em si. Sem saber disso, e ainda sonhando com um amor inventado, ela não conseguia ser feliz. Sentou-se, desolada, na cadeira que rangia sua dor de desamor. Estava desacordada no que as pessoas insistiam em dizer que era autêntico. Não era, oras. Não pra ela, que ainda sentia vontade de brincar de voar. Queria mais da vida. Queria mais vida. Entendeu agora?
Seu olhar foi arremessado na ausência. Suas mãos se abraçaram, entregues à solidão encarnada. E as pernas balançavam no ar, numa tentativa equivocada de encontrar o nada. E se jogar. Mas nunca se jogaria. Era uma menina medrosa. Tinha medo de perder o pouco que colecionara. Tinha medo de descobrir que seu amor não valia nada. Tinha medo de encontrar. E de não encontrar também. Tinha muito medo ali com ela. Sua prisão estava pronta e bem trancada. Então ela chorou. Mas nem isso adiantou. Nada aconteceu. Tudo ficou igual depois do choro compassivo dela.
Foi quando ela começou a falar. Falou, falou, falou. Despejou muitas palavras. Ela era bilíngüe, aquela menina. Falava duas línguas raras. Poucos entendiam. Mas os que compreenderam disseram que ela tem o dom de encantar quando começa a pronunciar aquelas palavras difíceis.
Ela ficou feliz, enfim, porque alguém entendeu sua dor. Sua ânsia de amor de sonho. De um sonho precioso e bem guardado. De uma quimera que encanta porque tem magia de criança. Depois disso, ela levantou-se da cadeira que rangia e resolveu voltar. Mesmo sem as flores que queria tanto ganhar naquele dia tão especial.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Palavras difíceis

Estou muito cansada pra argumentar, discutir, debater, aventar, controverter, agitar. Hoje também não quero metáforas. Tampouco figuras exacerbadas. Mas palavras difíceis são bem-vindas. Porque hoje estou inexorável. Não quero falar em sentir. Quero apenas minutar. Digitar as letras sem pactos. Com nenhuma comiseração. Estou assim. Em branco. Acho que estou documento hoje. Documento rápido. Sem burocracia que apoquenta. Sem meias-verdades. Direto. É assim que quero pra mim hoje. Tudo célere. Certeiro. Mas palavras difíceis são bem-vindas, eu friso. Pra muitas vezes ficar sem entender. Mesmo que seja rápido e eficaz. Porque nem sempre entender é o caminho. Muitas vezes prefiro o abstruso. Porque não sei o que significa ou expressa. Está apenas ali: a palavra jogada, hirsuta e destoada. Esperando ser, quem sabe, um dia. Ou não.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Simples assim

Não conseguia escrever com a alma.
E, juro, morava com as estrelas.
Sentia, sorria, consumia.
Voava, chorava, amava.
Meditava, derramava, dilacerava.
Esvaziava. Inventava.
E palpitava.
Até fingia que escrevia.
E experimentava.
Mas depois... Depois nada, coitada.
A noite chegava, após do dia.
E nada. NADA.
Ela ainda não sabia que apenas bastava.