
Quando abri os olhos, fui envolvida pela vastidão de um céu. Invadiu-me até o fim. A viagem era longa demais e eu já estava na metade. Tão cansada, que poderia retornar, não tivesse andado tanto até ali. Voltar seria pior, eu sei. Era um ônibus nem velho, nem novo. As poltronas eram confortáveis até onde conseguiam ser. Não havia ar condicionado e sol não dava trégua. A estrada estava ruim. Perigosa. Curvas e buracos. Era esse mesmo o caminho? Não sabia. E, juro, não era tempo de respostas. Melhor entorpecer a alma com Clarice Lispector. Ela sempre me leva para a sombra arejada de minha copa preferida, num lugar onde nada provoca. Ali, bem ali, embaixo da árvore, na grama aconchegante e fresca, sento desprevenida e corajosa. Feliz, saboreio o colorido, exalo aromas cintilantes, emito sons de borboleta. Ali, as nuvens são tocáveis. E, sim, são macias e doces. Ora chantili. Ora algodão. E muitas vezes me aninham, colo de mãe, na hora de dormir.