Rogério tinha 13 anos, mas seu cérebro era mais velho. Seu pai dizia que era de outro mundo, o que ele encarava como outra galáxia. Sua mãe não o compreendia e quando ele fazia aquelas perguntas complexas, ela arregalava os olhos e gaguejava, depois piscava, e respondia com outra pergunta. "De onde você tirou isso, menino?"
E ele ficava ainda mais confuso, mas acostumado.
Na escola, todos o estudavam. Seus professores riam, muitas vezes, de suas conclusões e interrogações mais que precoces... Absurdas!
Ficção científica era seu forte, mas não acreditava em ficção. Apenas no científico. Para ele, havia seres extraterrestres entre nós e poderíamos, inclusive, ser seus descendentes. Sabia que o universo era infinito... Mas questionava o infinito e sua grandeza. Dizia que tamanho não existia e sim proporções. Que podíamos todos fazer parte de um átomo que formava outro mundo e este, por sua vez, se fazia em outro, e assim por diante. Acreditava que tempo e espaço eram os fundamentos de tudo e a vida era algo inexplicável e mágico. Sabia que existem várias esferas de vida, outras dimensões, mundos paralelos e diversos desfechos para qualquer história.
Quando cresceu, parou de perguntar. Passou a observar, refletir, meditar. Ficou velho e morreu pensando. Hoje está em outra esfera, pensando que poderia ser um átomo, uma formiga, um ET.
Amanhã ele parou de pensar e resolveu estudar literatura. Depois de amanhã é jogador de futebol. Outro dia foi responsável pelo fim deste mundo.
Ou daquele?
Rogério pirou.
Escrito em 2001.
Um comentário:
Todo mundo tem um pouco de Rogério. Algumas pessoas insistem em deixá-lo escondido. Na verdade o quero dizer é que as pessoas têm preguiça de pensar, preferem ser normais. É, deve ser isso.
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