segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Que Deus te abençoe com felicidade

Há alguns poucos meses, ela perguntou se eu conhecia alguém que tivesse chegado aos 100. Eu assenti. E era verdade. Mas eu sabia também que não seria esse o seu caso, dadas as circunstâncias em que se encontrava. Sua saúde de ferro tornou-se, no fim, o seu maior carrasco. De fato, raramente ficava doente. E o médico não cansava de afirmar que seu coração (de mais de 90 anos!!!), era forte como de uma menina... Mas seu corpo estava exaurido. Ela já não andava e nem comia sozinha. Precisava de ajuda nas necessidades mais básicas. E tinha momentos de lucidez mesclados ao que prefiro classificar como “estado de quimera”, quando revivia momentos bem-aventurados. Minha avó era uma mulher triste. A vida toda, ou pelo menos no período que eu presenciei, ela foi sorumbática. Claro que teve dias afortunados, assim como as pessoas felizes têm seus tempos melancólicos. Suas amarguras não foram em vão, importante frisar. Uma vida marcada por algumas perdas trágicas, dores e abandonos. E, claro, houve ocasiões gloriosas e de amor. Porque mesmo com toda a sua agonia e solidão latente, havia, vez ou outra, uma certa ternura que eu encontrava num olhar. Ou em um sorriso raro. Mas no “conjunto da obra”, sei que pesou mais o desgosto. Tem gente que é assim mesmo: não sabe como amar, mesmo com muito amor pra dar. Não consegue ser feliz, mesmo com a felicidade morando ao lado. HOJE ELA SE FOI. Uma morte calma, ou pelo menos é o que me pareceu. A respiração foi diminuindo, lentamente. Até que parou. Sem sobressalto. Ela desistiu de chegar aos 100 anos, mesmo faltando pouco. E sabe, prefiro acreditar que decidiu ser a hora de soltar as rédeas. Pela primeira vez. E, enfim, ser feliz. É o que mais desejo, o que mais espero, o que mais peço!

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Porque


Porque o desejo da alma foi atendido. O sonho sonhado. A vontade alcançada. O voo voado. Porque sinto o êxtase brilhando na minha própria serenidade. Porque assim notei a ausência dele. Na verdade, não percebi o momento exato em que o medo se foi. Deixou um vazio despretensioso. Um vácuo respeitável. Um lugar fechado pra balanço, em reforma. A terra onde planto a mim. Porque é onde adubo você.