sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
Abri os olhos pra mim
O olhar está quieto. O olhar está aqui. Está aceso. Ilumina o obscuro que nunca soube. Sempre sobrevida, guardado no intra mais interno da caverna que guardo oculta de mim. Tem amargo na boca. E dor na cor incolor do odor. Em meio a uma inflamação que quase cega, vê sim a existência. Vasculha então. Determinado. Receia o inexplorado. Mas é maior a ânsia por descobrir a verdade bendita. Ou maldita? O medo está aqui. Sim, sinto nos ossos. Mas não mais corrompe. E o olhar fica quieto sim. Mas o olhar está aqui. Enfim.
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
Alice
O que há, de novo, na terra de Alice? Há tempo. Isso é o que há agora. E ela, pobre menina sempre muito ocupada, não sabe mais o que fazer. Passa, então, a observar a vida. Vê as pessoas irem e virem. Olha as plantas crescendo. Enxerga o invisível. Sente, de súbito, um gosto amargo. Porque se descobre encoberta de uma manta superficial, que apenas aparenta aquecer. Tudo, ao redor, parece cenário. Tem gente que nasce atuando. Outros morrem de tanto aparentar. A menina percebe-se no aquém do ser. Mais que estar. Quer, como nunca, o relógio há pouco roubado. E, determinada, sai a buscar. Agora tem um mapa e um tesouro. A vida volta a ter sentido.
quarta-feira, 8 de julho de 2009
Um minuto
Vivo de viver.
Amo de amar.
Como de comer.
Devoro pra saciar.
Durmo pra acalmar.
Perco as chaves do carro. Fico à deriva, olhando o tempo passar (assim, quem sabe, ele me esquece). Mas os segundos vão se juntando e acumulam rapidinho. Logo se tornam minuto. E a hora chega veloz. Aí paro de contar e ele, enfim, me deixa em paz, distraída e desavisada. Então penso: preciso ser mais sustentável, ajudar a salvar o planeta. E levanto uma bandeira. Sim, torno-me estandarte de uma causa. Até que acato decisões alheias. Contrariada, distraio o olhar e me perco não sei onde.
Deito na cama por deitar e penso no último tombo que levei.
Rio de mim (rs).
Sou riste, não triste.
Amo de amar.
Como de comer.
Devoro pra saciar.
Durmo pra acalmar.
Perco as chaves do carro. Fico à deriva, olhando o tempo passar (assim, quem sabe, ele me esquece). Mas os segundos vão se juntando e acumulam rapidinho. Logo se tornam minuto. E a hora chega veloz. Aí paro de contar e ele, enfim, me deixa em paz, distraída e desavisada. Então penso: preciso ser mais sustentável, ajudar a salvar o planeta. E levanto uma bandeira. Sim, torno-me estandarte de uma causa. Até que acato decisões alheias. Contrariada, distraio o olhar e me perco não sei onde.
Deito na cama por deitar e penso no último tombo que levei.
Rio de mim (rs).
Sou riste, não triste.
segunda-feira, 8 de junho de 2009
Decida!
Na dúvida, digitei dívida. Seria um sinal para o caminho a não seguir? Se a desconfiança já permeava a decisão quase tomada, agora me desejava um boa sorte atormentado pela suspeita.
Mas que menina perturbada! Não sabes que a escolha traz consigo uma perda? Não podes ter tudo não. Pensa assim, ó: como vai ser mais feliz? Ou: de que forma será menos arrependida? Ah, tem outro segredo pra eu te contar: todo caminho tem volta, viu... Nem sempre do jeito que você almeja, mas tem. Saiba que boneca quebrada tem conserto. E que Abajur colado também acende. E ilumina.
Mas que menina perturbada! Não sabes que a escolha traz consigo uma perda? Não podes ter tudo não. Pensa assim, ó: como vai ser mais feliz? Ou: de que forma será menos arrependida? Ah, tem outro segredo pra eu te contar: todo caminho tem volta, viu... Nem sempre do jeito que você almeja, mas tem. Saiba que boneca quebrada tem conserto. E que Abajur colado também acende. E ilumina.
Então agora vai, menina medrosa, acredita mais em si. Escolhe logo um caminho.
Se não, vão escolher por ti.
quarta-feira, 18 de março de 2009
Passavida
Não sei se todos vão entender. Porque muitas vezes, por mais expressiva que a palavra seja, ela não é. Derrete-se em semi-significados. Ou perde-se no dicionário. Simples, mas muito complexo. Assim, como o nada às vezes representa tudo. E o que parece estar completo, falta. Os paradoxos são respostas verdadeiras em um mundo de informações superficiais. A eficiência da agilidade diária torna o tempo, tão precioso, apenas entretenimento. E nessa imensidão aparente, de céu, lua cheia e estrelas artificiais, a futilidade distrai a razão. O sentir perde a essência da leveza de ser. O vazio preenche lacunas. E a vida torna-se um grande passatempo.
Os olhos não vêem além da TV da sala de estar. As cortinas estão fechadas e a menina, enroscada no controle remoto e de mouse em punho, pode mudar o canal ou apenas tentar um novo click. Ela acredita, eu juro, que basta apertar um botão pra ser feliz.
Os olhos não vêem além da TV da sala de estar. As cortinas estão fechadas e a menina, enroscada no controle remoto e de mouse em punho, pode mudar o canal ou apenas tentar um novo click. Ela acredita, eu juro, que basta apertar um botão pra ser feliz.
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
Em branco
Sabe, fui procurar ajuda nos casarões da rua ao lado da minha. Mas, lá encontrei algo que nunca soube. Uma exposição de quadros em branco. Sim. Isso mesmo. Não há, meu caro, descrição mais franca e honesta: se posso ser mais precisa, acrescentaria grande e, talvez, profundo. Sim, era um grande e profundo branco. Mas, se queres mesmo mais detalhes, posso adentrar ali naquela coisa alva pra saber sua real textura. Sabe, tenho um pouco de receio desse negócio. Entrar em quadro é surreal, eu sei. E é justamente isso que alimenta a alma de quem vive de sentir, na sutileza do imenso poder que nos concede a essência da arte. Do ser. Simples e acabado. Ser por querer ser. E ponto. Volto ao meu quadro branco, que continua a me tentar. Entrei. E foi fácil. Bastou botar um pé, depois o outro. O corpo veio devagar e pronto. Cá estou neste branco, que agora está ainda mais cândido. É até bonito à primeira olhada. Diferente e estranho. Mas atraente. Ofusca um pouco os olhos, que doem de tanta brancura. Sinto-me um pouco molenga e pesada. Aqui é tudo pastoso, melado. Os movimentos são difíceis. E as dificuldades ficam cada vez mais ansiosas. A sensação é de sonho bizarro. Tentar correr e não sair do lugar. Travar a boca e sentir amolecer a mandíbula. Devia ter trazido as tintas, mas deixei-as encostadas muito tempo e endureceram. Agora os olhos lacrimejam. É impossível não chorar. Tristeza branca. Além de mim, nada. Apenas este bendito-maldito branco. Bonito e provocante. Cruel e invejoso. Rouba os sonhos e as vontades. Leva as sensações. Lava os sentimentos. Esfria os sentidos mais singelos. Deixa um nada que não se acaba. Nem acende, nem abranda. Age com a perpetuidade da ausência. Maldita lacuna. Sinto-me anular. Oca no vazio da omissão. Mais com menos é menos. Nunca entendi isso direito nas intermináveis aulas de matemática que tanto detestava. Agora compreendo, mas também está esvaziando. Tudo que vem, vai. Rápido na lentidão, vejo desistir. Sim, o abandono extasiado na ausência de cor e cheiro e som e tato e sabor e humor e calor e pudor e pavor e amor. O repúdio instala-se assim. Resta o vago vazio de tudo, que é nada. Sim, no raso mais profundo do nada, o tudo se fez alheio.
quinta-feira, 29 de janeiro de 2009
Na hora
Sempre soube. Mesmo sem nunca ter visto ou tocado. Sabia que estava lá. Segredo de um relógio. Vai. Não volta. Nem fica. Escorre entre os dedos. Minha pele às vezes é macia. E ele flui mais fácil nesse tempo de suavidade. Um dia, por um segundo perdido, nossos olhos se toparam. Efêmero e improvável. Mesmo assim, perdi a hora. Não ouvi o tilintar. Esqueço. No abre-fecha, desencontros. No fecha-abre, possibilidades. Sinto como um bem-querer. Fecho os olhos para ver melhor. As mãos se abraçam, perpetuadas. Quero cessar. Impossível. Seguro o ponteiro. Tão forte que sangram os dedos. Parou. O silêncio interrompido. E nada, meu Deus, não há nada. Um branco dissolvido. Sem começo, meio ou fim. NADA. Sobressalto e boca seca. Falta-me ar. Não adianta, menina tola, não adianta. Travo os dentes. Solto a alavanca. Os braços doem e ele segue, enfim. Agora o ar está de volta. A pele, ressequida.
sexta-feira, 16 de janeiro de 2009
Devaneio
Quando abri os olhos, fui envolvida pela vastidão de um céu. Invadiu-me até o fim. A viagem era longa demais e eu já estava na metade. Tão cansada, que poderia retornar, não tivesse andado tanto até ali. Voltar seria pior, eu sei. Era um ônibus nem velho, nem novo. As poltronas eram confortáveis até onde conseguiam ser. Não havia ar condicionado e sol não dava trégua. A estrada estava ruim. Perigosa. Curvas e buracos. Era esse mesmo o caminho? Não sabia. E, juro, não era tempo de respostas. Melhor entorpecer a alma com Clarice Lispector. Ela sempre me leva para a sombra arejada de minha copa preferida, num lugar onde nada provoca. Ali, bem ali, embaixo da árvore, na grama aconchegante e fresca, sento desprevenida e corajosa. Feliz, saboreio o colorido, exalo aromas cintilantes, emito sons de borboleta. Ali, as nuvens são tocáveis. E, sim, são macias e doces. Ora chantili. Ora algodão. E muitas vezes me aninham, colo de mãe, na hora de dormir.
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